Bruno Rosa, Prémio
É hora de preparar a empresa para o mundo pós-pandemia. Essa é a frase que mais tenho escutado nas últimas quatro semanas. Com o fim de 2021 se aproximando muitas companhias começam a atualizar seu plano de negócios para estruturar os pilares que vão sustentar o crescimento para os próximos anos após os estragos financeiros causados pela Covid-19. Mas que mundo novo é esse que as corporações estão mirando? Após os debates em torno da necessidade de uma maior digitalização e conectividade nos negócios, chegou o momento de acelerar os projetos em energia sustentável a partir do sol, dos ventos, da biomassa e do embrionário hidrogênio.
Essa maior consciência ambiental das corporações é um movimento global e acentuada em países em desenvolvimento como o Brasil. Com o excesso da liquidez financeira no mundo, investidores estão exigindo que bancos e fundos de ‘private equity’ busquem cada vez mais projetos sustentáveis em seus portfólios. Com mais recursos, começam a surgir inovações como a combinação de energia solar e eólica em um mesmo parque, o uso de baterias de lítio para armazenar a eletricidade gerada pela manhã com o sol ou à noite com o vento. Vale tudo para reduzir o consumo de combustíveis fósseis como petróleo e gás natural.
No fim de setembro, por exemplo, a anglo-holandesa Shell lançou no Brasil sua marca voltada para o segmento sustentável, a Shell Energy. Uma das maiores produtoras de petróleo do mundo vai investir somente no maior país da América Latina meio bilhão de dólares em projetos renováveis até 2025. Parte desses recursos será destinada a uma ‘joint venture’ com a Gerdau, uma das maiores fabricantes de aço do mundo, para a construção de uma planta solar. Em ‘call’ com jornalistas, a petroleira disse ainda que quer trazer para o Brasil plantas eólicas em alto-mar, uma opção já popular na Europa.
A BRF, uma das maiores empresas de alimentos do mundo e dona da marca Sadia, começa a construir no início de 2022 uma planta de energia solar no Brasil com o objetivo de reduzir seus custos com a energia elétrica. A meta é chegar ao final da década gerando 88% da energia que consome a partir de fontes limpas, disse Lorival Luz, CEO da BRF. A espanhola Telefônica, dona no Brasil da marca Vivo, a maior empresa de telecomunicações do Brasil, atrelou metas de redução da emissão de gases causadores do efeito estufa aos bônus dos seus executivos.
Aliás, as empresas europeias lideram as apostas renováveis no Brasil. A italiana Enel, através da subsidiária Green Power, iniciou recentemente a operação de um de seus maiores projetos no país, com um parque eólico que consumiu investimentos de quase meio bilhão de euros. A EDP Renováveis, por sua vez, quer quadruplicar sua capacidade no Brasil, tornando o país o terceiro maior mercado do mundo para a empresa, atrás apenas dos Estados Unidos e Espanha.
Além da agenda ambiental e das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, os projetos ambientais também ganham tração por conta da maior crise hídrica dos últimos 91 anos no Brasil. Sem chuvas, um reflexo do aquecimento global, a energia elétrica fica mais cara – ajudando a pressionar a inflação para perto dos 10%, no maior patamar em 21 anos, segundo o IBGE, responsável em mensurar os dados no país.
Há ainda nesse mundo pós-pandemia uma maior consciência das empresas com a sociedade. Estudo feito pela consultoria “amo”, do Grupo Havas, apontou que um dos valores mais buscados pelas empresas diz respeito às pessoas e à comunidade. E, para isso, nada melhor do que proteger o meio ambiente seja para amenizar os custos com o aumento dos preços ou reduzir a emissão de gases poluentes. O pós-Covid é pró-Ambiente.