Quinta-feira, Abril 25, 2024

Há 75 anos a “construir” o seu futuro

Entrevista a Manuel António da Mota, Fundador da Mota-Engil

Ana Valado

Com um posicionamento de mercado alinhado com as melhores práticas e uma conduta empresarial assente em princípios éticos e suportados numa visão estratégica única e integrada para o futuro, a Mota Engil ambiciona tornar-se um Grupo mais internacional, inovador e competitivo à escala global.
Este ano o Grupo celebra 75 anos de actividade, mas a ambição é a mesma desde as suas origens: continuar a trilhar novos caminhos no seu desenvolvimento.

Fundado em 1946, o Grupo Mota Engil é hoje uma multinacional com actividade centrada na construção e gestão de infra-estruturas segmentada pelas áreas de Engenharia e Construção, Ambiente e Serviços, Concessões de Transportes, Energia e Mineração. Líder em Portugal e com uma posição consolidada no ‘ranking’ dos 25 maiores grupos europeus de construção, a Mota Engil marca presença em 3 continentes e 25 países, repartidos por 3 áreas geográficas – Europa, África e América Latina.

Isto é a Mota Engil hoje, com 75 anos de actividade. Mas para percebermos como chegou ao lugar de destaque que actualmente ocupa, a nível nacional e internacional, é importante conhecermos um pouco da sua história.

A empresa teve a sua origem em Cabinda, quando o empresário português Manuel António da Mota, com apenas 33 anos, partiu para Angola. Lançando-se inicialmente no negócio da comercialização de madeiras, com a construção da Mota & Companhia em 1946, logo percebeu que a oportunidade estava no sector da Construção e das Obras Públicas, lançando-se em 1948 nesta área. A Mota & Companhia teve um percurso nos seus primeiros trintas anos de actividade apenas em Angola. A “Mota”, como é conhecida neste país, afirmou-se neste mercado com a construção do aeroporto internacional de Luanda.

Foi com esta ambição e ligação forte que criou a este país que Manuel António da Mota afirmou a marca da Mota e Companhia em Angola, sendo a única empresa portuguesa de relevância que se manteve ininterruptamente até hoje em Angola, e como sempre refere o actual Presidente e filho, António Mota, “estaremos sempre em Angola para os bons e maus momentos”.

A primeira experiência de internacionalização da empresa foi curiosamente para Portugal, onde estabeleceu atividade a partir de 1976, com a sua primeira obra em território português, a pequena barragem do Lucefecit, no Alentejo.

O ano de 1977 foi um ano determinante na história e no que viria a ser o futuro da empresa em Portugal, quando decidiu concorrer a uma das maiores obras públicas do século XX em Portugal, a regularização do Baixo Mondego, saindo desse concurso a proposta da Mota & Companhia vencedora com uma solução técnica surpreendente e diferenciadora. A partir daí, e num projecto determinante que durou até 1983, a empresa afirmou-se de forma crescente em Portugal, mantendo sempre a sua posição em Angola.

Foi nesta altura que António Mota, actual Presidente do Conselho de Administração, iniciou a sua carreira profissional na Obra do Mondego a par de uma geração de jovens engenheiros que viriam a ser pilares muito importantes no desenvolvimento da empresa nas décadas seguintes.

A fusão que criou um líder

Com o alargamento da Europa a leste depois da queda do muro de Berlim, e com a chegada dos fundos comunitários para os estados-membros da então CEE, o mercado português conheceu uma dinâmica crescente com a afirmação da empresa em Portugal e com os primeiros exemplos de consolidação da expansão internacional, depois das primeiras incursões por África nos finais dos anos setenta e oitenta, culminando nesta fase, na década de noventa, sob a decisão de Manuel António da Mota e com António Mota e o apoio das suas irmãs Manuela, Teresa e Paula Mota já em cargos de gestão de topo na empresa, a iniciar a actividade na Europa Central, em países como a Polónia, Hungria e República Checa, depois de no início da década ter iniciado actividade em mercados africanos relevantes, como Moçambique e Malawi.

Nessa altura por Portugal vivia-se a euforia da preparação dos trabalhos da Expo´98, onde a Mota & Companhia e a Engil tiveram um papel importantíssimo em obras que são ‘ex-libris’ do país, como são os casos do Oceanário de Lisboa, por diversas vezes considerado o melhor do mundo, e a Ponte Vasco da Gama, àquela data a maior ponte da Europa (hoje é a segunda) e o primeiro projecto em parceria público-privada executado em Portugal.

No mesmo ano da exposição internacional, e com António Mota ao comando da empresa, foi adquirida no Peru uma empresa local, a Translei, em conjunto com a também portuguesa Engil, uma experiência que resultaria na afirmação com sucesso neste mercado da América Latina e que seria o prenúncio de uma aquisição maior que António Mota concretizaria mais tarde.

O perfil da Mota & Companhia e a Engil era muito complementar e as empresas tinham um histórico de colaboração em diversos consórcios em Portugal para além da aquisição no Peru, pelo que a decisão de António Mota revelar-se-ia totalmente acertada, conseguindo entre 1999 e 2000 concretizar a aquisição da Engil, criando mais tarde a Mota-Engil em resultado da fusão, um processo que ainda hoje é reconhecido como um dos casos de integração empresarial de maior sucesso alguma vez realizados em Portugal, criando um novo líder no mercado da construção em Portugal.

Aeroporto de Luanda

Centro Cultural de Belém

A afirmação internacional

Após uma década de afirmação da Mota-Engil, o Grupo iniciou um novo ciclo, criando uma Comissão Executiva em 2008, liderada então por Jorge Coelho, e sob um Plano Estratégico apresentado ao mercado com a designação “Ambição 2013”.

António Mota manteve-se como Presidente do Conselho de Administração, criando uma equipa de gestão executiva que o ajudou a desenvolver um novo ciclo de ambição para o Grupo potenciando a diversificação de negócios no portefólio do Grupo e um crescimento mais vigoroso na área internacional.

Apesar da crise financeira que surgiu meses depois da apresentação do Plano Estratégico e com epicentro nos Estados Unidos, a Mota-Engil cumpriu os desígnios estratégicos que haviam sido definidos sob a liderança de António Mota e Jorge Coelho, criando os alicerces que permitiriam em poucos anos ao Grupo atingir o Top 30 europeu onde permanece hoje e com a afirmação das suas operações em regiões como a Europa, Africa e América Latina. Os mercados internacionais passaram a representar mais de 75% no final deste ciclo, quando em 2007, último ano antes da alteração da equipa executiva, representava apenas 34% do volume de negócios do Grupo.

Para a sua concretização foi determinante a alteração do modelo de gestão do Grupo com a criação das unidades regionais que permitiu a aceleração do desenvolvimento comercial e a afirmação local em cada mercado, assim como a entrada em novos mercados a partir de negócios fora da construção, como o ambiente ou as concessões, sendo o México o exemplo mais relevante e que hoje é o país com o maior portefólio de concessões do Grupo.

Para este rápido crescimento, mas sustentável, António Mota repetidamente afirma que na empresa “somos portugueses em Portugal, africanos em África e latino americanos na América Latina, mas Mota-Engil em todo o mundo”, numa mensagem de coesão e de uma cultura única e diferenciada que sempre faz questão de preservar.

Face à crise que culminou com a intervenção externa da “Troika” em mercados europeus, como Portugal, pode ler-se na mensagem de António Mota, Chairman do Grupo, no Relatório e Contas de 2011, a seguinte mensagem: “A nossa exposição internacional com novos clientes e novos mercados reforçam a minha convicção de que estamos no caminho certo para sairmos reforçados no final da crise”. No mesmo documento, Jorge Coelho, então CEO do Grupo, referiu que: “Regista-se acima de tudo o aprofundamento do cenário de contração económica sentido nos últimos anos em Portugal, mas também na Europa”, mas quantificou o crescimento internacional num aumento de 43% em termos absolutos desde a implementação do seu Plano Estratégico, facto que nos permite confirmar da bondade da estratégia em vigor que continuará a ser a de promover o reforço desta actuação para os próximos anos”.

Oceanário

Fundação Champalimaud

A elevação do patamar em termos de dimensão posicionou a Mota-Engil entre as principais construtoras europeias e entre as dez maiores na América Latina (7.ª em 2020), sendo ainda uma das três maiores construtoras europeias em África, líder na África Subsariana e em mercados como Angola, Moçambique, Malawi.

Nesse mesmo período, foi constituída a Fundação Manuel António da Mota, uma ambição da família de homenagear o fundador do Grupo e desenvolver a sua política de responsabilidade social nos países onde a Mota-Engil marca presença, sendo hoje, dez anos após a sua constituição um dos melhores exemplos de projectos em Portugal na intervenção do desenvolvimento social e apoio à educação e à cultura, tendo trabalho desenvolvido em diferentes países, criando um cunho da presença da Mota-Engil junto das comunidades locais.

Nos últimos anos, e já com Gonçalo Moura Martins como CEO do Grupo, a Mota-Engil manteve a sua trajectória de crescimento, alargando a cadeia de valor ao segmento do Oil & Gas no Brasil, onde iniciou serviços de manutenção de plataformas, e reforçando na mineração, área onde o Grupo tem experiência desde o final da década de 90 (quando iniciou a operação no Peru) e onde tem vindo a crescer de forma significativa com contratos de elevada dimensão, terminando em 2020 com cerca de mil milhões de euros de carteira de encomendas apenas neste segmento, entre seis mil milhões do total.

Em conjunto com Gonçalo Moura Martins, o CEO que passou por todas as áreas de negócio do Grupo, da construção, ao ambiente passando pelas concessões, a equipa de gestão da holding conta hoje com Carlos Mota Santos e Manuel Mota, representantes da terceira geração da família Mota e que são um exemplo de continuidade do compromisso do accionista fundador para com o futuro do Grupo.

Em 2021, ano que marca os 75 anos da Mota-Engil, foram concretizados vários marcos na história do Grupo, começando pela assinatura, em Janeiro, do maior contrato da sua história na Nigéria, com o projecto ferroviário Kano-Maradi, alcançando em Junho o recorde de carteira de encomendas no valor de 7,4 mil milhões de euros e concretizando na plenitude o Acordo de Parceria Estratégica e de Investimento com uma das maiores construtoras mundiais, a China Communications Construction Company (CCCC), um parceiro com dimensão global e que se perspectiva que venha a contribuir para a participação da Mota-Engil em projectos de (ainda) maior dimensão.

Num momento que concretiza a efeméride de comemoração de uma data tão marcante, a Mota-Engil continua a construir o seu futuro muito para além dos horizontes do seu país de origem, e tal como Manuel António da Mota partiu de Codeçoso para conquistar novos mundos, também a Mota-Engil continua a trilhar novos caminhos no seu desenvolvimento.

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