Quarta-feira, Abril 24, 2024

Futuro oficial

João VasconcelosEx-Secretário de Estado e da Indústria

Imaginar o mundo daqui a 15 anos é uma tarefa que tem tanto de aliciante como de risco. Quando olhamos para atrás apercebemo-nos que há 15 anos estava a ser fundado o Facebook, que hoje tem biliões de utilizadores, o Google tinha apenas cinco anos e estava a começar a sua expansão e ainda faltavam cinco anos para o lançamento do Iphone, do Airbnb e da Uber e quase 10 anos para o lançamento do Ipad e da Tesla. Tudo tecnologias que usamos várias vezes ao dia, que alteraram a maneira como nos relacionamos e como produzimos. O exercício de imaginar o que vai existir mesmo daqui a cinco anos é arriscado. Podemos, sem dúvidas, apontar algumas pistas. As novas gerações vão lidar com computadores e com ‘software’ como outras lidaram com o automóvel, o telefone e com a televisão, não existirão fronteiras entre telemóvel, o ‘tablet’, o PC ou a TV. O ensino generalizado da programação e a inteligência artificial, por essa altura, vão permitir à humanidade criar e orientar máquinas e ‘softwares’ para a resolução de inúmeras tarefas perigosas, sujas e monótonas até então realizadas pelo ser humano. A noção de propriedade será muito diferente, provavelmente ninguém comprará um carro, uma bicicleta ou uma mota, mas pagará minutos de utilização de cada coisa de acordo com a sua necessidade naquele momento e naquele local. Garantidamente os carros autónomos serão comuns, fazendo com que uma viagem longa seja um óptimo momento de convívio familiar, de consumo de bens culturais e o momento privilegiado para realizar compras. A diminuição dos acidentes rodoviários será muito acentuada trazendo enormes benefícios para as comunidades. Gerações de idosos ou de adolescentes afastados da mobilidade independente poderão ter uma vida mais participativa, no caso dos idosos o aumento da mobilidade vai trazer melhor acesso ao apoio social e médico bem como maior relacionamento com a família. Os camiões autónomos serão comuns e praticamente todo o sector de logística será autónomo e controlado por algoritmos, em Lisboa bastarão duas torres de drones para realizar qualquer entrega em menos de um minuto depois da sua compra. Sim, vamos comprar vegetais e praticamente tudo o que temos no frigorífico na hora, com imensas vantagens no consumo energético, tempo e desperdício alimentar. A impressão 3D e a realidade virtual farão parte de qualquer casa e todo o dinheiro será digital, terminando assim com grande parte da economia paralela. A segurança terá avanços gigantes com a disseminação da videovigilância inteligente ligada a bases de dados com capacidades extraordinárias de processar informação de maneira a prevenir comportamentos perigosos e a criminalidade mais comum. O ensino será muito diferente, será dada maior atenção às características individuais e ao seu potenciamento em detrimento da memorização e acontecerá ao longo de toda a vida activa. Os consumidores serão mais exigentes, acompanhando toda a concepção e produção do que adquirem e a preocupação ambiental será uma norma. Não existirá lugar para empresas e lideranças sem preocupações sociais, as empresas terão um papel muito para além da obtenção de lucro e a filantropia será algo muito frequente. O resultado da maior introdução de tecnologia na história será a valorização histórica de tudo o que só um Humano pode criar. Com a digitalização do comércio, da indústria, das relações pessoais, cada vez existirão mais momentos de relacionamento entre Humanos, os máximos históricos de participantes em concertos, feiras, museus, eventos são a prova disso. Tudo o que transmitir um sentimento só será produzido pelo Homem e vai ter um valor e importância inéditos. A prática de desporto e a preocupação por estilos de vida saudável serão práticas comuns. Muitas mais coisas acontecerão que não fazemos ideia. O que aqui vos escrevo é o Futuro Oficial, aquele que todos acreditamos que existirá, aquele que desejamos e para o qual a maioria vai trabalhar. Mas tenham uma certeza, o Futuro Possível será muito diferente, muitos sectores desaparecerão e muitos outros serão criados, na maior parte dos casos só muito tempo depois nos apercebemos dessas mudanças. Uma das poucas certezas que temos é que pela primeira vez na nossa história, Portugal está preparado para fazer parte desta mudança, o nosso ensino, os nosso empreendedores, etc.. Os exemplos da Farfetch, Vision-Box, Feedzai, Outsystems, Talkdesk e tantos outros mostram que pela primeira vez numa revolução industrial, Portugal tem empresas relevantes em termos mundiais. A Web Summit e as dezenas de investimentos estrangeiros nestas áreas, como o Hub Digital da Mercedes, da Google, da Amazon, da VW, Zalando, Pipedrive, entre outros, provam que Portugal tem tudo o que esta economia valoriza. Basta continuarmos a ser nós próprios e o nosso lugar de destaque na economia do Século XXI está assegurado.

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