Sábado, Abril 20, 2024

Fatores da retoma económica mundial em 2021

Rafael Diogo, Analista Financeiro e de Mercados do Bankinter Portugal

Desde o início da pandemia que a área de Research do Bankinter mantém uma postura à qual chamamos de “otimismo fundamentado”. Apesar da enorme incerteza causada pela CV-19 nos últimos meses, defendemos que a mesma gerava um “choque de impacto” e não produziria danos suficientes para que ocorresse uma recessão, para além do ano 2020. E até agora tudo parece encaminhado para que isso aconteça; tudo aquilo que podia correr bem, correu ainda melhor do que poderíamos esperar. Destacamos seis fatores-chave para o contexto económico, que tiveram, ou se encaminham para ter, um desfecho positivo: (i) as vacinas, que chegam mais rápido do que nunca, e com altos níveis de eficiência; (ii) o desfecho eleitoral americano, com presidência democrata, mas escrutínio republicano; (iii) a forte proatividade dos bancos centrais no apoio à economia; (iv) a recente assinatura do RCEP na Ásia, que passou despercebido; (v) o segundo pacote de estímulos fiscais americano, prestes a ser aprovado; (vi) o acordo formal para o Brexit.

Se 2020 foi um ano em que os mercados foram protagonistas – com quedas no primeiro trimestre, inéditas desde 1987, recuperações fortes desde junho e com o S&P 500 a atingir máximos históricos – acreditamos que todos os fatores referidos antes, tornarão 2021 num ano em que o protagonismo irá para a recuperação económica. Por regra, os mercados adiantam-se sempre à economia. E foi isso que despoletou as recuperações fortes dos índices acionistas na segunda metade de 2020. Ora, nos próximos meses, o regresso que prevemos do crescimento económico irá dar razão aos mercados. Quanto aos fatores que ditarão o rumo da economia global, identificamos: (i) o sucesso da distribuição da vacina ao longo da primeira metade de 2021, (ii) a política americana que parece agora menos conflituosa, especificamente em relação a temas como a relação com a China e (iii) a proatividade, que deve ser mantida por parte de bancos centrais e governos no apoio à economia.

Para já, no processo de reativação da atividade económica, há um país que leva um avanço em relação aos restantes – a China. O impacto sofrido pelo vírus na China ocorreu antes do resto do mundo e a experiência na gestão de pandemias revelou-se importante. Em primeiro lugar, as medidas de contenção ajudaram a diminuir os contágios, em segundo, a cobertura pública das despesas de saúde foi crucial. Além desta destreza a lidar com o vírus, o Banco Central e o governo mantêm uma capacidade de manobra importante para implementar estímulos. Por fim, celebrou-se recentemente a assinatura do RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership), um acordo de livre comércio ente 15 países da Ásia-Pacífico. A negociação durou 10 anos e cobre um terço da população mundial. É mais um fator que mostra que o dinamismo económico e a tomada de decisão se deslocam cada vez mais para a região da Ásia-Pacífico.

Quanto à evolução da economia portuguesa, defendemos desde logo que Portugal seria mais impactado do que a média da UE pela pandemia. O elevado peso do turismo, níveis de dívida pública que se mantêm muito altos e um custo dessa dívida que é superior à dos países ‘core’ eram evidências disso. Ainda assim, vemos sinais positivos na evolução da nossa economia. Desde logo, os apoios fiscais têm mantido a taxa de desemprego em níveis controlados e o mercado imobiliário continua a mostrar resiliência. Ambos os fatores serão muito importantes no médio prazo, para garantir o poder de compra e a riqueza acumulada dos portugueses. Além disso, os fundos europeus constituem uma oportunidade enorme para a retoma da atividade e para aumentar de forma estrutural a competitividade da economia portuguesa – resta saber se esta oportunidade vai ser aproveitada.

Partilhe este artigo:

- Advertisement -
- Advertisement -

Artigos recentes | Recent articles

Um país na flor da idade

Nos últimos 20 anos Angola sofreu inúmeras transformações, desde a mais simples até à mais complexa. Realizou quatro eleições legislativas, participou pela primeira vez numa fase final de um campeonato do mundo, realizou o CAN e colocou um satélite em órbita.

David Cameron

David Cameron foi Primeiro-Ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016, liderando o primeiro Governo de coligação britânico em quase 70 anos e, nas eleições gerais de 2015, formando o primeiro Governo de maioria conservadora no Reino Unido em mais de duas décadas.

Cameron chegou ao poder em 2010, num momento de crise económica e com um desafio fiscal sem precedentes. Sob a sua liderança, a economia do Reino Unido transformou-se. O défice foi reduzido em mais de dois terços, foram criadas um milhão de empresas e um número recorde de postos de trabalho, tornando-se a Grã-Bretanha a economia avançada com o crescimento mais rápido do mundo.

Conferências com chancela CV&A

Ao longo de duas décadas, a CV&A tem vindo a promover conferências de relevo e interesse nacional, com a presença de diversos ex-chefes de Estado e de Governo e dirigentes políticos de influência mundial.

As idas e vindas da economia brasileira nos últimos 20 anos

Há 20 anos, o Brasil tinha pela primeira vez um presidente alinhado aos ideais da esquerda. Luiz Inácio Lula da Silva chegava ao poder como representante máximo do Partido dos Trabalhadores (PT).

Uma evolução notável e potencial ainda por concretizar

Moçambique há 20 anos, em 2003, era um país bem diferente do de hoje. A população pouco passava dos 19 milhões, hoje situa-se em 34 milhões, o que corresponde a um aumento relativo de praticamente 79%, uma explosão que, a manter-se esta tendência será, sem dúvida, um factor muito relevante a ter em consideração neste país.

O mundo por maus caminhos

Uma nova ordem geopolítica e económica está a ser escrita com a emergência da China como superpotência económica, militar e diplomática, ameaçando o estatuto dos EUA. Caminhamos para um mundo multipolar em que a busca pela autonomia estratégica está a alterar, para pior, as dinâmicas do comércio internacional. Nada será mais determinante para o destino do mundo nos próximos anos do que relação entre Pequim e Washington. A Europa arrisca-se a ser um mero espetador.

Mais na Prémio

More at Prémio

- Advertisement -