Sofia Rainho
1. Os acordos alcançados pela Presidência Alemã mesmo na recta final do mandato esvaziaram a Presidência Portuguesa da União Europeia?
A presidência alemã – nomeadamente no tocante às decisões em matéria financeira e o acordo com o Reino Unido – abriu caminho para a presidência portuguesa, mas fez aumentar, também, as suas responsabilidades e os seus trabalhos. Assim, o primeiro semestre de presidência portuguesa terá de lidar com a aplicação das aludidas decisões financeiras – implicando uma vasta regulamentação – e com a execução do acordo com os britânicos.
Além disso, há vertentes essenciais que dominarão a presidência portuguesa, da pandemia – incluindo a vacinação – à prioridade ao social – que abrange a Cimeira dedicada aos efeitos sociais da crise – das alterações climáticas e da transição energética ao digital, das migrações e refugiados às relações com África, de novas perspectivas entre União Europeia e EUA à Cimeira com a Índia e ao futuro do entendimento com o Mercosul. Em suma, um semestre cheio, difícil, mas essencial para todos nós, europeus, e para a projecção da Europa no mundo.
2. Acredita que a vacina contra a Covid-19 vai permitir começar a recuperação económica já em 2021?
A vacinação pode contribuir para o começo da recuperação. Mas impõe-se que a prevenção e a resposta à pandemia não afrouxem, porque a pandemia pode ir mais rápida do que a vacinação durante tempo ainda indeterminado. Por outro lado, impõe-se que os planos de recuperação, eles próprios, vão arrancando e criando condições, tanto a nível nacional como a nível europeu, para que 2021 possa ser melhor do que as previsões conhecidas permitem conjecturar.
3. Qual o principal desafio dos próximos cinco anos do mandato presidencial?
São cinco – por fases. Primeira fase – superar a pandemia e fazer arrancar a recuperação. Segunda fase – converter a recuperação em mais do que isso – em refazer estrutural do que tem de ser refeito ou reconstruído, mesmo para além do que prevêem os planos de recuperação. Uma e outra fase -com prioridade ao social, à prioritária redução da pobreza e às desigualdades pessoais, de grupo e territoriais e com fortalecimento do sistema político.
Tudo, pressupondo proximidade, estabilidade, compromisso no essencial, vitalização de área de Governo e alternativa forte na oposição e permanente ultrapassagem de uma visão de fação, de uns bons e outros maus, uns virtuosos e outros vilões, ou seja, visão nacional, respeitando o pluralismo democrático, mas indo além dos muros e barreiras dos egoísmos individuais ou de grupo.