Adolfo Mesquita Nunes, Partner Gama Glória
É hoje convicção generalizada de que o Mundo está a ficar pior, que as condições de vida se estão a degradar, que há menos oportunidades, que estamos, pela primeira vez, a regredir e que as novas gerações estão a viver pior. É isso que os jornais nos dizem, é isso que os colunistas nos asseguram e é isso que os nossos olhos se habituaram a ver.
A explicação para este retrocesso é simples: a globalização falhou, vivemos num Mundo onde muito poucos ganham e quase todos perdem. É isso que ouvimos, à esquerda e à direita do espectro político.
De um lado, normalmente o esquerdo, dizem-nos que esta economia global está a permitir que os mais ricos fiquem cada vez mais ricos enquanto se exploram os mais pobres. Há como que um grito de alerta contra a oligarquia. De outro lado, normalmente o direito, dizem-nos que esta economia global está a abrir as fronteiras aos inimigos do nosso modo de vida, que estão a ficar com os empregos e a contribuir para o empobrecimento. Há como que um grito de alerta contra os estrangeiros.
De ambos os lados, dizem-nos que esta economia global permite que os mais fortes, os mais poderosos, andem pelo Mundo a fazer o que querem, deslocalizando as empresas para onde lhes apetece, pagando poucos impostos, e vivendo à conta dos países que exploram, numa espécie de conspiração informal. A descrição desta conspiração vai variando. À esquerda falam-
-nos de uma conspiração do 1% mais rico. À direita falam-nos de uma conspiração marxista-cultural.
Não é uma perspectiva animadora, esta, e é ela que está na base dos populismos, da polarização, da intolerância, do surgimento desse absurdo conceito de “democracia iliberal”, da predisposição para o retrocesso democrático e, sobretudo, para a defesa do fim da globalização, do capitalismo, da afirmação de uma nova ordem.
E das duas, uma, se queremos vencer esses populistas e esses retrocessos: ou estamos hoje a piorar, e temos de fazer alguma coisa quanto a isso; ou as coisas não são bem assim e é bom que consigamos fazer passar a mensagem. O pior que podia acontecer era inventar soluções para problemas que não existem tal qual descritos.
Sucede que não é possível demonstrar que o Mundo está hoje pior. E não é possível porque todos os dados provam o contrário. Estamos hoje globalmente melhor do que antes: crescimento, combate à pobreza (sabia que o número de pessoas em pobreza está no nível mais baixo da História, que temos a maior classe média de sempre, que a desigualdade global não está a aumentar, por exemplo?), saúde, educação, condições laborais, direitos das mulheres, protecção das minorias, acesso a água e energia, e até mesmo em políticas públicas ambientais estamos mais conscientes e actuantes do que no passado.
Hoje a pessoa média do Mundo é 4,4 vezes mais rica do que a pessoa média do Mundo em 1950. Em Portugal, esse valor é mais impressionante: o português médio é hoje 10 vezes mais rico do que o português médio em 1950.
Todas estas melhorias desafiam uma lógica que muitos consideravam inquebrantável: a de que para alguém ganhar, outro teria de perder. Se acreditássemos nessa lógica, um aumento de sete vezes na população mundial seria suficiente para nos levar a todos à extrema pobreza, já que mais pessoas a partilhar riqueza determinaria que houvesse menos riqueza. Não foi o que sucedeu.
Claro que há muitos problemas a resolver, porque o Mundo está longe de ser um lugar perfeito, e há muitos desafios (e sérios!) a vencer, porque a globalização é dinâmica e veloz. Mas nada disso se vence deitando fora o que nos trouxe com tanto sucesso aqui: a globalização e o capitalismo.
Se queremos vencer os populistas e os radicais, não temos de comprar as teses deles, jogando no tabuleiro que eles nos colocam: eles baseiam-se em pressupostos errados e é nossa tarefa desmontar as suas narrativas e mostrar como, como todos os problemas, com todos os desafios, estamos hoje a viver melhor do que os nossos avós.