António Costa, Jornalista do ECO
If we want to sell journalism, we have to do journalism’, é uma proposição que se lê no jornalismo anglo-saxónico, é óbvia, mas, por vezes, são as próprias empresas de comunicação social a esquecerem-na. Hoje, neste contexto, já não basta fazer jornalismo, é preciso mais, e é por isso que devemos dar prioridade às saídas, às soluções (e há várias, não há uma bala de prata que resolva tudo).
Comecemos por uma evidência: As empresas de comunicação social estão a atravessar uma crise profunda, que se acentuou com a pandemia, mas o jornalismo e os jornalistas nunca foram tão necessários como agora. É um paradoxo, que tem de ter uma solução, ou várias, para garantir uma sociedade informada e uma democracia substantiva e não apenas formal, com votação em eleições e pouco mais.
A crise das empresas de comunicação social e do próprio jornalismo não é de hoje, não é da pandemia, e resulta também de erros próprios, e não apenas das malfadadas redes sociais ou da mudança de perfil de consumo de informação. A tudo isto, a estagnação do país na última década e a pandemia agravaram o quadro geral de dificuldade.
Neste contexto, há pelo menos duas condições essenciais para salvar o jornalismo (não gosto muito deste tipo de dramatismo, mas usemos esta formulação para sublinhar um ponto): As fusões e aquisições, por um lado, e a inovação e a tecnologia, por outro, são condições necessárias para garantir um jornalismo independente e capaz de desempenhar o seu papel. Sem capital, será tudo muito mais difícil, mais doloroso, mas o capital só chegará se estas condições forem cumpridas.
Em primeiro lugar, as fusões e aquisições. Há demasiadas empresas jornalísticas e há demasiados meios de comunicação social, por isso, vai ter de haver um processo de consolidação do setor, como houve noutros nos últimos 20 anos. Poderá haver fusões e aquisições de empresas com a manutenção dos mesmos títulos, mas alguma coisa terá de suceder aqui. Porque é preciso escala. Não há mercado publicitário para tantos meios, a estratégia tem sido sempre a mesma, cortar custos, e isso também significa fazer menos jornalismo, ou o mesmo com muito menos qualidade. E os leitores não são apenas inteligentes, são também exigentes.
Em segundo lugar, as empresas de comunicação social têm também de assumir a sua condição de empresas tecnológicas. A forma como os meios chegam aos leitores, a sua usabilidade, é um ponto crítico e quase sempre menosprezado no processo de decisão empresarial e jornalístico. Estamos, todos, habituados a pensar nas notícias e a desvalorizar a forma como elas chegam aos leitores, e isso tem de mudar. Os meios de comunicação social não competem apenas entre si, e isso já seria difícil, competem pela atenção dos leitores em concorrência com plataformas como o Netflix, o Spotify ou a HBO. E estas plataformas têm conteúdos, mas têm também tecnologia, e servem de referência na comparação do desenvolvimento tecnológico das aplicações e dos sites de informação.
Os leitores estão aí, e querem jornalismo. A responsabilidade está do nosso lado.