Quinta-feira, Abril 25, 2024

A vitória do medo

António Filipe, Ex-Deputado do PCP

Ao anunciar que a rejeição da proposta de Orçamento do Estado na AR conduziria à convocação de eleições antecipadas, o Presidente da República estendeu a passadeira vermelha para a estratégia eleitoral do PS que, tendo apresentado uma proposta inaceitável para os partidos à sua esquerda, recusou qualquer possibilidade negocial, colocando-os perante o dilema de uma viabilização humilhante ou de uma rejeição que faria desencadear uma violenta campanha de responsabilização da CDU e do BE pela dissolução da AR.

É hoje reconhecido que o sentido de voto de muitos milhares de eleitores foi influenciado pela divulgação de sondagens que apontavam para um “empate técnico” entre o PS e o PSD que nunca existiu, mas cuja divulgação terá contribuído de forma determinante para que o PS tivesse conquistado a maioria absoluta.

A possibilidade de a comunicação social condicionar a liberdade de escolha dos cidadãos induzindo-os em erro através da divulgação de sondagens que se revelam manipulatórias, interpela muito seriamente a qualidade da democracia. Entre as ‘fake news’ de Trump ou Bolsonaro e as ‘fake polls’ divulgadas entre nós por órgãos de comunicação social presumivelmente sérios, não vai uma distância muito grande quanto aos seus efeitos.

A maioria absoluta do PS foi a vitória do medo. Foi o medo de muitos milhares de eleitores de vir a ser governados por um PSD aliado à extrema direita, que os fez esquecer que a diferença entre o PS de Sócrates e o PS de Costa não resultou de nenhuma mudança de natureza do PS, mas do facto de em 2015 o PS não ter a maioria absoluta e só ter podido ser Governo porque Jerónimo de Sousa afirmou na noite de 4 de outubro de 2015 que o PS só não formaria Governo se não quisesse e forçou a que muitas medidas de sentido positivo tivessem sido tomadas mesmo contra a vontade do PS. Muitos eleitores que em 2015 e 2019 votaram à esquerda do PS terão esquecido essa noite. Decididamente, o medo é mau conselheiro.

(Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)

Partilhe este artigo:

- Advertisement -
- Advertisement -

Artigos recentes | Recent articles

Um país na flor da idade

Nos últimos 20 anos Angola sofreu inúmeras transformações, desde a mais simples até à mais complexa. Realizou quatro eleições legislativas, participou pela primeira vez numa fase final de um campeonato do mundo, realizou o CAN e colocou um satélite em órbita.

David Cameron

David Cameron foi Primeiro-Ministro do Reino Unido entre 2010 e 2016, liderando o primeiro Governo de coligação britânico em quase 70 anos e, nas eleições gerais de 2015, formando o primeiro Governo de maioria conservadora no Reino Unido em mais de duas décadas.

Cameron chegou ao poder em 2010, num momento de crise económica e com um desafio fiscal sem precedentes. Sob a sua liderança, a economia do Reino Unido transformou-se. O défice foi reduzido em mais de dois terços, foram criadas um milhão de empresas e um número recorde de postos de trabalho, tornando-se a Grã-Bretanha a economia avançada com o crescimento mais rápido do mundo.

Conferências com chancela CV&A

Ao longo de duas décadas, a CV&A tem vindo a promover conferências de relevo e interesse nacional, com a presença de diversos ex-chefes de Estado e de Governo e dirigentes políticos de influência mundial.

As idas e vindas da economia brasileira nos últimos 20 anos

Há 20 anos, o Brasil tinha pela primeira vez um presidente alinhado aos ideais da esquerda. Luiz Inácio Lula da Silva chegava ao poder como representante máximo do Partido dos Trabalhadores (PT).

Uma evolução notável e potencial ainda por concretizar

Moçambique há 20 anos, em 2003, era um país bem diferente do de hoje. A população pouco passava dos 19 milhões, hoje situa-se em 34 milhões, o que corresponde a um aumento relativo de praticamente 79%, uma explosão que, a manter-se esta tendência será, sem dúvida, um factor muito relevante a ter em consideração neste país.

O mundo por maus caminhos

Uma nova ordem geopolítica e económica está a ser escrita com a emergência da China como superpotência económica, militar e diplomática, ameaçando o estatuto dos EUA. Caminhamos para um mundo multipolar em que a busca pela autonomia estratégica está a alterar, para pior, as dinâmicas do comércio internacional. Nada será mais determinante para o destino do mundo nos próximos anos do que relação entre Pequim e Washington. A Europa arrisca-se a ser um mero espetador.

Mais na Prémio

More at Prémio

- Advertisement -