Pedir a um político para prever o futuro já é uma tarefa ingrata. Mais difícil ainda quando se trata do futuro da União Europeia (UE), se virmos o momento crítico que atravessa.
A verdade é que poucos teriam apostado na continuação da Grécia na moeda única e muito menos teriam antecipado que o Reino Unido estaria de saída do projeto europeu.
Mas este desafio de prever o futuro da UE tem a virtude de obrigar-nos a pensar e perspectivar o que queremos para o futuro, o nosso futuro comum.
É particularmente oportuno fazermos esta reflexão nesta altura, porque em breve as eleições europeias de Maio de 2019 darão origem a um novo ciclo político que condicionará inevitavelmente o futuro.
Antes de dar o salto para o futuro, é necessário olhar para o percurso da UE até hoje.
Apesar de todas as crises passadas e presentes, a UE continua a ser o fenómeno político mais significativo e duradouro do pós-guerra. Tem assegurado paz a milhões de Europeus, tem sido porto de abrigo para muitos não Europeus, e continua hoje a ser um centro de valores e direitos fundamentais. Com este pano de fundo político, o projeto europeu trouxe ao continente europeu desenvolvimento, prosperidade, crescimento e um nível de bem-estar social elevado sem igual a nível mundial.
É muito comum desprezarmos os sucessos da UE ou considerá–los como um dado adquirido. Hans Rosling retratou isso no seu livro “Factfullness” onde descreve a tendência natural e instintiva da Humanidade para o dramatismo. É irónico constatar que é de fora da União Europeia que nos apercebemos nitidamente das suas vantagens.
A União Europeia enfrenta desafios tremendos, internos e externos e em simultâneo. Internamente, a saída da crise económica e financeira, os ataques terroristas e o Brexit. Externamente, a gestão de um fluxo de refugiados e de efeitos de alterações climáticas.
Todos estes desafios fazem-nos temer pelo nosso bem-estar e pela estabilidade das nossas sociedades europeias.
Todos estes desafios alimentam a narrativa de medo em que assenta os partidos extremistas e populistas, de direita e de esquerda, que enfraquecem o projeto Europeu.
No entanto, a opor a essa percepção, a realidade é que nunca a União Europeia cresceu tanto economicamente e com níveis de desemprego tão baixos, como já não se verificavam há décadas.
O mundo está a mudar, e com ele a posição da Europa no mundo.
No futuro, o continente europeu vai ter menos população e vai ver a sua grande riqueza diluída a nível global. As projecções demográficas para 2060 apontam para que a população da União Europeia constitua cerca de 4% da população mundial, contra quase 7% hoje. E será provavelmente a população mais idosa do mundo. Estima-se que em 2030 a Europa represente 20% do PIB mundial, contra 22% hoje e 26% em 2004.
Isto revela grandes desafios para as nossas sociedades. No entanto, sabemos que vivemos hoje uma revolução digital que vai mudar a natureza da nossa economia, e que representa uma possível solução para mitigar os problemas demográficos, políticos, económicos e sociais.
Já se começou a ver a integração do digital em muitos aspetos da nossa vida, como na saúde, educação, agricultura, serviços financeiros, e até na governação e na administração pública. Isto mostra a fusão entre o mundo físico e o mundo digital. Mas os efeitos tangíveis da inovação digital estão ainda numa fase inicial, com um grande potencial ainda por vir.
Para mim, entendo que a tecnologia é a maior força transformadora do mundo, e consequentemente do projeto europeu, quando surtir efeitos em todos os sectores das nossas sociedades.
A revolução digital nos próximos 15 anos vai requer adaptações da nossa parte pois vai alterar o nosso quotidiano. Certas profissões vão desaparecer e outras surgir, sendo importante preparar as pessoas para novos empregos. O Fórum Económico Mundial estima que 60% dos alunos que entram hoje no ensino primário exercerão profissões que ainda não existem.
Apesar da rivalidade dos dois gigantes globais, os Estados Unidos e a China, e de outras potencias a emergir, acredito que a Europa está bem preparada do ponto de vista da ciência e do conhecimento para tirar partido das vantagens das novas tecnologias. Desenvolvimentos como o “blockchain” e a inteligência artificial representam o futuro, um futuro em que a Europa tem todas as condições para estar na linha da frente.
A Europa deve intensificar a sua capacidade de transformar esses conhecimentos em novos produtos, novos serviços e novos mercados.
No entanto, nesta corrida ao futuro, é fundamental a União Europeia honrar os valores da igualdade, da não discriminação, da inclusão, da dignidade humana, da liberdade e da democracia. Isto revê-se, por exemplo, no Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, que dá aos cidadãos europeus um maior controlo sobre os seus dados pessoais. O caminho certo, então, é usar a nossa cultura, os nossos valores, o que nos tem dado preponderância até agora para construir o futuro que queremos, como alternativa vincada aos nossos concorrentes globais.
Estou optimista em relação ao futuro da Europa e ao papel central que a inovação e a tecnologia vão ter neste futuro.
Acredito num futuro aberto para a Europa, uma Europa que se mantenha fiel aos seus valores para que continue a servir interesses comuns dos seus cidadãos, e ao mesmo tempo investir na inovação científica e tecnológica para que se mantenha competitiva a nível global.